Plasmodium
Plasmodium é um parasita unicelular protozoário que infecta as hemácias, causando a Malária. É espalhado em seres humanos pela picada da fêmea do mosquito Anopheles. Plasmodium têm diversas formas, de acordo com a fase do ciclo de vida, e em média cerca de 1-2 micrómetros de diâmetro, enquanto a hemácia tem cerca de 7 micrómetros. Para além disso, possuem duas fases de reprodução: assexual no ser humano e sexual no mosquito.
Seguindo a classificação científica actual:
- Reino: Protista
- Filo: Apicomplexa
- Classe: Aconoidasida
- Ordem: Haemosporida
- Género: Plasmodium
Ciclo de vida
![]() |
Espécie de mosquito do género Anopheles |
O ciclo de vida do plasmódio inicia-se com a picada de uma pessoa por um mosquito fêmea do género Anopheles. Ele imediatamente antes de sugar o sangue dos capilares injecta pequena quantidade de saliva anticoagulante rica em plasmódios na corrente sanguínea, sendo apenas necessários 10 plasmódios para causar uma infecção no ser-vivo.
Assexuado:
Os plasmódios estão na fase de esporozoíto*, chegando em menos de 30 minutos pela corrente sanguínea ao fígado, onde invadem os hepatócitos*. Consequentemente, transformam-se em esquizontes - maiores e multicelulares. Esses dividem-se por reprodução assexuada, gerando milhares de merozoítos*. Caso seja P. Falciparum, mais merozoítos, comparativamente às outras espécies de plasmódio existentes. Este processe dura apenas seis dias, caso se trate de P.falciparum ou algumas semanas, se consistem nas outras espécies.
São os merozóitos que invadem os glóbulos vermelhos. No caso do P.falciparum, todos os esquizontes se transformam em milhares de merozóitos, enquanto nas restantes espécies, alguns esquizontes ficam dormentes no fígado, possibilitando o ressurgimento da infecção, provavelmente muitos anos depois, mesmo que a mesma estivesse (aparentemente) curada. Actualmente, é frequente em Portugal, em pessoas cuja a sua naturalidade é África. Os merozóitos dividem-se assexuadamente no interior das hemácias, provocando a lise celular. Desta forma, a presença de substâncias tóxicas no sangue é inevitável, indo, consequentemente, afectar ainda mais hemácias.
Sexuado:
Alguns merozóitos tranformam-se em formas sexuais, após a meiose. As formas sexuais (macrogâmetas e microgâmetas) são aspiradas pelo mosquito Anopheles, quando este pica a pele. No estômago do mosquito, o microgâmeta sofre exflagelação e funde-se com o macrogâmeta, gerando um zigoto. Este diferencia-se em oocisto, onde desenvolvem-se e dividem-se em milhares de esporozoítes, provocando a lise celular ao oocisto e migrando para as glândulas salivares do insecto. Assim, possibilita-se a invasão para um novo hóspede humano.
Podem existir muitos oocistos no estômago do Anopheles, mas os danos causados à parede do estômago quando os oocistos eclodem não aparentam ter nenhum efeito negativo, relativamente à longevidade do mosquito.
Sistema Imunitário
Dentro das hemácias, os merozóitos não são detectáveis pelo sistema imunitário. Só quando a hemácia sofre lise celular, e antes de terem tempo de penetrar noutra, é que são detectados, havendo produção de citocinas* pelos leucócitos, como a IL-1*, que produz febre, tremores, e mal-estar. Como todos os merozóitos originais foram libertados do fígado simultaneamente, demorando cerca do mesmo tempo para reproduzirem-se na sua hemácia, a lise celular irá provocar sintomas de febre violenta que tendem a ocorrer em períodos sincronizados, devido à resposta à doença.
O parasita produz proteínas que se produzem dentro da hemácia. Elas são transportadas para a membrana celular. Aí funcionam como adesinas, ligando-se a moléculas presentes nas paredes dos vasos sanguineos, tornando mais lenta a circulação da hemácia. Desse modo, o parasita evita a passagem no baço, onde é possivelmente destruído, já que o baço é um órgão imunológico e que tem como uma das funções a renovação das hemácias. Teoricamente, seria possível destruir o plasmódio através da formação de anticorpos contra essas proteínas. Contudo, o plasmódio possui 50 conjuntos diferentes com a mesma função e vai trocando-os aleatoriamente, de modo que quando os anticorpos específicos para um conjunto estão em produção já ele mudou o conjunto que utiliza.
Por isso, o único tratamento possível para a não-propagação do parasita no interior do organismo será medicação adequada. O sistema imunitário para o controlo da mesma.
- Plasmodium falciparum
Existe em todas as regiões tropicais. É a espécie que causa a malária maligna, a mais grave e também a mais comum, constituindo 80% dos casos e 90% das mortes.
A incubação é curta, de seis a dez dias. Invade todos os eritrócitos, imaturos, envelhecidos ou de meia idade. Os seus números por mililitro são muito superiores aos das outras espécies, infectando por vezes 20% dos eritrócitos totais a cada instante. Causa malária maligna. Inicialmente, as crises são diárias. As características clínicas da sua infecção são muito mais graves, com vómitos, náuseas, diarreia, fortes dores de cabeça, convulsões, défices mentais, delírio e - não raramente - coma e morte (se não tratada). Por isso, trata-se de uma emergência médica.
Microscopicamente, é visto como meia-lua na periferia do glóbulo. Infecta mais frequentemente os eritrócitos que se encontram no fígado ou baço, e muitas vezes não é detectado no sangue periférico. As hemácias estão com tamanho aumentado e distorcidas, com grânulos avermelhados. É resistente à cloroquina*.
- Plasmodium vivax
É o mais comum, existindo nas áreas tropicais e também em algumas temperadas.
O P.vivax geralmente não causa doença mortal, já que ele só invade os eritrócitos jovens imaturos, tendo receptores específicos para eles. O seu período de incubação é de cerca de 15 dias, com sintomas gripais, inicialmente. Febres altas e tremores - devido à lise celular dos eritrócitos - ocorrem, normalmente, em ciclos de 48 horas, tratando-se de malária benigna. Normalmente, os doentes vivem muitos anos, com crises recorrentes, sem qualquer tratamento. Formam-se hipnozoites, formas adormecidas no fígado, que, mesmo após a cura da doença sintomática, podem voltar à circulação muitos anos depois, com recorrência da doença.
![]() |
Plamodium Vivax ao microscópio |
- Plasmodium ovale
Comum em Africa, enquanto é raro na América do Sul e Ásia.
Semelhante ao P.vivax, o seu período de incubação é de cerca de 15 dias. Geralmente não causa doença mortal porque só destrói as hemácias imaturas. Causa malária benigna, actuando em ciclos de 48h. Causa doença crónica com ataques durante muitos anos, sem qualquer tratamento. Formam-se hipnozoites, formas adormecidas no fígado, que, mesmo após a cura da doença sintomática, podem voltar à circulação muitos anos depois, com recorrência da doença.
É identificado na microscopia devido à aparência típica das hemácias ovais e aumentadas. Os pontos de Schuffner são cor-de-rosa pálidos. Sensível à cloroquina.
- Plasmodium malariae
Mais raro, mas ocorre em todos os continentes.
O seu período de incubação pode ser de várias semanas e até meses e anos. Não causa doença aguda fatal, geralmente, porque só infecta eritrócitos envelhecidos, tendo receptores específicos para ele. Se não tratada, causa doença crónica com ataques durante muitos anos. Não se formam hipnozoites. Os ataques são de 72 em 72 horas: malária benigna. À microscopia os eritrócitos são de forma normal. Têm pontos vermelhos vivos, e merozoites em forma de barras. Sensível à cloroquina.
![]() |
Plasmodium Malariae ao microscópio |
Glossário:
Esporozoíto é uma célula alongada, causadora da malária, surgida do oocisto do intestino do Anopheles. Essas células parasitas vão para as glândulas salivares do mosquito-prego(Anopheles), onde estarão preparadas para entrar na via sanguínea do humano quando o mosquito apenas picar.
Hepatócitos são células encontradas no fígado capazes de sintetizar proteínas, usadas tanto para exportação como para sua própria manutenção, por isso torna-se uma das células mais versáteis do organismo.
Merozoíto é o nome de um estágio do Plasmodium, causador da malária.
Ele é o produto da reprodução dos esporozoítos no fígado humano. Esses merozoítos que vão atacar as hemácias e se reproduzirão, provocando a lise do glóbulo vermelho caracterizando os intervalos de febre e calafrio típicos da malária.
Ele é o produto da reprodução dos esporozoítos no fígado humano. Esses merozoítos que vão atacar as hemácias e se reproduzirão, provocando a lise do glóbulo vermelho caracterizando os intervalos de febre e calafrio típicos da malária.
Citocina é um termo genérico empregado para designar um extenso grupo de moléculas envolvidas na emissão de sinais entre as células durante o desencadeamento das respostas imunes
Interleucina 1 (IL-1) é uma interleucina cuja função principal é aumentar a produção de defensinas pelo epitélio.
Cloroquina, 6-cloro-4-(4-dietil-amino -1-metilbutilamino)-quinolina, é um fármaco usado no tratamento da malária, muito utilizada nos anos 80, substituída por outros medicamentos, após o Plasmodium falciparum ter-se tornado resistente à sua acção.